Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim d'alma esquecida,
Dormir em paz num leito d'hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força da ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Paris 1913 - maio 15
...Mário de Sá-Carneiro
3 comentários:
Viva! Estou a ver que vou ter de voltar com mais tempo.. aqui lê-se em quantidade e qualidade! ;)
Cheguei aqui através do Receitas Vegetarianas e porque não consegui comentar por lá... :( Que tal abrir os comentários a "non-blogger"?
jokinhas e até breve
é bom receber feedback:) fiquei feliz pelas palavras, e por saber que não está assim tão parado como às vezes parece...
beijo***
"Nem todos os livros deste mundo
Poderão trazer-te a felicidade,
Mas ocultamente te indicam
Sobre ti mesmo a verdade.
Lá tens tudo o que precisas,
O sol, as estrelas e a lua,
Pois a luz que procuravas,
Na verdade, já é tua!"
(Hermann Hesse)
Gostei do teu blog... Pena tar tão desactualizado...
Keep on
Kiss
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